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segunda-feira, 9 de maio de 2011

Para a revista Veja ou Dez razões pelas quais qualquer livro escrito pelo Tolkien é (MUITO) melhor que A Guerra dos Tronos

Bem, tem gente que acha que O Senhor dos Anéis é história pra criança, só posso dizer que lamento tamanho desconhecimento da obra do grande escritor que é o Tolkien.
Também há quem desconsidere o todo do qual essa obra faz parte, o que também é incrivelmente lamentável.
J. R. R. Tolkien foi um excelente professor, linguista, crítico, ensaísta e escritor. Graças a ele tivemos um retorno à Fantasia. Escritores que hoje escrevem sobre Mundos Secundários tão perfeitos e coerentes devem sempre se lembrar que dificilmente isso seria possível sem a preparação de terreno que Tolkien promoveu.
Como escritora, leitora, estudiosa e fã de Fantasia fico muito feliz com tantos escritores bons surgindo no ramo, mas fico extremamente triste com pessoas e meios de comunicação que acham que toda obra que surge tem que ser necessariamente comparada à obra de Tolkien. Ele é sim o pai da Fantasia moderna e seus sucessores provavelmente foram inspirados por toda a sua criação e (minha opinião) nenhum chegou tão longe quanto o Professor de Oxford, muito menos o Sr. George R. R. Martin. Um grande escritor, sem dúvida, mas que nem de longe se aproxima da genialidade de Tolkien.
Confesso que fiquei bastante irritada com a matéria no site da revista Veja (http://veja.abril.com.br/noticia/celebridades/dez-razoes-pelas-quais-a-guerra-dos-tronos-e-muito-melhor-do-que-o-senhor-dos-aneis), cujo título parafraseei neste post, então vamos lá às 10 razões que, para mim, fazem da obra de Tolkien algo muito melhor que a série As crônicas de gelo e fogo:

1. Os personagens transam, escarram, defecam e ficam de ressaca sim, mas Tolkien não achou necessário descrever isso em seus livros já que ele tinha que descrever a criação de um Mundo desde o seu início, assim como todos os acontecimento que nos levam ao final da Terceira Era do Sol.

2. A linha entre bem e mal é muito mais tênue - se é que existe. - Tem certeza que a pessoa que escreveu essa matéria leu a obra do Tolkien? Bem, não parece. Talvez ela não tenha prestado tanta atenção... Às vezes o mal é bem delimitado, assim como o bem, mas nunca vi alguém que realmente tenha lido a obra do professor ter tal opinião... caso se interessem, tenho um artigo publicado sobre o mal no Silmarillion.

3. Martin não abusa das descrições como Tolkien - Eu particularmente acho que isso é questão de gosto. Tem gente que não gosta, mas eu adoro, assim como vários outros leitores. Essa preocupação com as descrições de Tolkien foi bem apreciada, inclusive, pelos produtores e diretores dos filmes, tenho certeza. Mas me impressiona alguém que tenha gostado tanto das descrições de escarros, transas e ressacas implicar com as descrições de paisagens e cidades da Terra-média... realmente questão de gosto.

4. Martin não tem nenhum princípio - Sim, Tolkien tinha. Vários. Mas nada que tenha prejudicado a sua obra. Chegando neste número, na matéria da revista, tive certeza que a pessoa que escreveu tem um conhecimento muito superficial de Tolkien e sua obra. A diferença que talvez seja gritante até aqui é que Tolkien estava preocupado em narrar uma história sobre um Mundo, um povo que teve que lutar e conseguir vitórias e também derrotas através de laços de amizade e coragem. Se não era necessário ninguém nu para que isso acontecesse, Tolkien não tinha porque forçar, não é mesmo?

5. O autor de Crônicas não se ofende se você encontrar alegorias nos livros - Sério que você está usando como critério para decidir se um livro é melhor que outro um gosto particular dos autores? Tolkien realmente não gostava de alegorias. Acreditava que o leitor ter liberdade para enxergar o que quiser era muito melhor do que ter uma leitura direcionada pelo autor, o que quer dizer que ele não "se ofendia" se alguém "encontrasse uma alegoria", mas se ofendia quando diziam que ele tinha escrito um texto alegórico, o que é bem diferente.

6. Ao terminar os capítulos de Crônicas o leitor está sem ar - Bem, mais uma vez algo completamente individual. Eu fiquei completamente sem ar quando li qualquer livro do Tolkien, assim como vários outros livros de vários outros autores. Isso quer dizer que eles são melhores que aqueles que eu ainda tinha ar?

7. Há mais reviravoltas na trama em um livro de Martin do que em todas as obras do Tolkien juntas - Okay... desde quando reviravoltas na trama é sinônimo de qualidade? Como estudiosa do gênero Fantasia, não me lembro de jamais ter lido ou visto tal coisa, assim como em nenhum outro gênero. Bem, talvez no Romance Policial tradicional, mas ainda assim, outro critério bastante duvidoso.

8. O leitor troca de olhos a cada capítulo - Bem, a esta altura eu já perdi toda a esperança de que essa criatura tenha realmente lido o Tolkien. Sério que você acredita que o ponto de vista nas obras do Tolkien é único? Sério?

9. Há personagens para todos os gostos - Pobre Tolkien... tanto trabalho para criar o que criou para que leitores desatentos diminuam seus personagens tão bem trabalhados...

10. As Crônicas de Gelo e Fogo duram mais - Bem, isso é interessante. Em primeiro lugar quero destacar que a autora da matéria trata da obra de Martin como um todo, mas elege apenas O Senhor dos Anéis de Tolkien para suas comparações. Será que ela não conhece a obra de Tolkien como um todo (me referindo aqui somente ao ciclo da Terra-média, ou seja, o que tem ligação com O Senhor dos Anéis)? É o que me parece, já que derrubaria todos os seus argumentos, se é que podem ser considerados como argumentos. Outra coisa: relacionando-se somente a O Senhor dos Anéis, Tolkien deixa bem claro que achava a obra pequena demais (o que eu também acho), mas provavelmente teremos vários leitores que preferem assim.

O que posso concluir com tudo isso é que não vi nenhum argumento válido para tal comparação, que em si já é absurda. Comparar livros diferentes, escritos em épocas diferentes é algo tão sem sentido que eu quase não acreditei quando me contaram, ainda mais com argumentos tão subjetivos e sem sustentação. Me espanta ver uma revista tão conceituada quanto a Veja publicar tal coisa. Talvez, para evitar problemas, a amiga poderia mudar o nome da matéria para "Dez razões pelas quais EU ACHO A Guerra dos Tronos muito melhor que O Senhor dos Anéis."
Minha opinião, lógico.

8 comentários:

  1. Concordo com tudo que você disse. Acho absurdo usar o número de páginas de uma obrar pra dizer que ela é superior a outra. Sou apaixonado por tudo que já li de Tolkien (e falta muita coisa pra ler ainda), e estou gostando das Crônicas de Gelo e Fogo. Mas comparar-las é impossível. São obras totalmente diferentes. Pra começar o Martin era um escritor de contos de Ficção Ciêntifica e roteirista de séries de TV (aquela série A Bela e a Fera com o Ron Pearlman era dele) que depois de ler Cornwell resolveu escrever um romance histórico. Mas como ele queria criar as próprias regras pra esse romance, resolveu criar seu próprio mundo se inspirando na Guerra Das Rosas, mas sem precisar se prender a algum fato histórico. Sou contra esse tipo de comparações, mas se for para comparar-lo com alguém, que seja com Bernard Cornwell ou Conn Iggulden que têm um estilo mais parecido com o dele. Desculpe ter escrtio tanto!

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  2. Imagina, Marcus! Obrigada por comentar!

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  3. Custa fazer uma reportagem que elogie uma obra SEM desmerecer a outra? É tão simples!
    E a comparação pode até ser inevitável, mas pra que tanta, e desse jeito? Parece que tem um ódio muito grande por trás de tudo que foi escrito, credo!

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  4. Pois é... vai saber a história por trás disso... quero nem saber!

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  5. A necessidade de causar polêmica ultrapassou, e muito, a obrigação de publicar algo coerente em um site que é lido e influencia (para o bem ou para o mal) tanta gente por aí.

    É a síndrome Lady Gaga-me-visto-com-roupa-de-carne-para-protestar-contra-o-fato-de-que-um-dia-vou-cair-no-esquecimento.

    Pelo que se nota, a pessoa que escreveu o 'artigo' ficou sabendo da existência desta saga há pouco, e não que existe desde 1996. Ora, que publicasse há quinze anos um artigo enumerando os fatos pelos quais ela acha que Martin supera Tolkien.

    O que me preoculpa é pensar que há pessoas que, além de acreditar piamente, acham bonito tentar se promover em cima de uma outra coisa consolidada e amada mundo afora, tendo a certeza de que NÃO é melhor, mas, sabendo que, se disser, muita gente vai querer saber o por que de estarem dizendo que é.

    Não quero entrar no hype que estão promovendo por conta desta série, para não cair em armadilhas e depois acabar não gostando. Quero gostar ou não gostar por conta própria... deixar a poeira baixar.

    O que mais me deixa de orelha em pé é a 'tradução' porca da LeYa... leiam aqui sobre isso: http://leituraescrita.wordpress.com/2010/08/24/a-guerra-dos-tronos-traducao-lancamento-e-critica/

    só pra finalizar, só UM fato que torna Tolkien eterno e insuperável: http://migre.me/4vdpF

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  6. O próprio George R. R. Martin admitiu em entrevista:
    "Eu li Tolkien quando eu tinha mais ou menos 12 anos e ele me impressionou muito, então eu não me canso de reler. Na verdade, eu planejava enviar uma carta a Tolkien quando eu era uma criança, mas acabei não enviando, algo queme aborrece, ainda mais depois de ter notado que Tolkien lia quase todas as cartas que recebia. Mas ele não foi uma influência direta para mim quando eu decidi escrever As Crônicas de Gelo e Fogo, embora meus livros são de um cânone da fantasia que Tolkien aperfeiçoou. Quero dizer, a fantasia é muito antiga. Podemos encontrá-la na Ilíada ou na Epopeia de Gilgamesh, mas Tolkien transformou-a em um gênero moderno, e As Crônicas de Gelo e Fogo compartilham alguns desses padrões, mas não todos eles. Por exemplo, eu pretendo oferecer uma fantasia suja, mais crua do que Tolkien."

    George bebeu muito da fonte aperfeiçoada de Tolkien e essa parte final é o que penso em relação aos dois. Tolkien é o criador de toda uma mitologia, de línguas, etc. Sua obra é tão rica, que mesmo o documentário do The History Channel intitulado "Confronto Dos Deuses: A Mitologia De Tolkien", consegue dar apenas algumas pinceladas sobre sua magnífica obra.

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  7. Obrigada, Li, por colocar essa entrevista aqui. Eu pensei em acrescentar no post, mas depois desisti. E você tem toda razão.

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