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I hate everything, except some things

segunda-feira, 20 de abril de 2020

MAMA

Okay, peoples! Hora de post considerado polêmico por algumas pessoas e que eu falho miseravelmente em entender o porquê.
Nossa, nem sei como começar. Bom, então... quero dizer que esse post teve origem devido a uma pessoa em particular que vem enchendo meu saco com isso por uns dois anos já. Fora a cobrança social, mas com isso eu não ligo 99% do tempo.
Vamos lá.
Sim, quando eu era criança e adolescente, eu sonhava em ser mãe, em ficar grávida. Mas isso mudou. E, não, não mudou por falta de oportunidade, sua linguaruda. Eu realmente, do fundo do meu coração, prefiro morrer a ter um filho. Bom, mas eu prefiro morrer a qualquer coisa então isso não conta muito... mas o caso é... eu prefiro, hmm... ver o Palmeiras campeão do que ter um filho? Sim, com certeza. Até o United. Quero dizer, eu tenho que ver de qualquer jeito, né... pelo menos vejo sem ter uma cria. Mas, aqui, cabe alguns esclarecimentos.
Gente, de maneira nenhuma quero desrespeitar as mães ou as crianças. Sinceramente, acho lindo uma pessoa estar disposta a mudar a vida dela pra acomodar uma pessoinha. Ou mesmo se engravidou por acidente, mudar tudo pra essa chegada inesperada. Não tenho nada além de respeito e admiração. Mas, e isso vale só pra uma meia dúzia, para de ser um pau no cu!
Não vem na minha cara romantizar sua gravidez por acidente porque eu e todo mundo sabe muito bem que você preferia estar biscateando por aí. E não tem nada de errado nisso. Biscateia mesmo! E, veja só, você pode biscatear depois de ter filho também! Mas aí vir com conversinha de "ai, foi a melhor coisa que me aconteceu" EU DUVIDO. DUVIDOOOO. Claro, você se sente na obrigação de falar isso, né... e que bom que, daqui há uns anos, quando seu filho/filha estiver grande e ler todos os seus posts do quanto ele/ela é a melhor coisa da sua vida, isso vai fazer dele/dela uma pessoa amada e feliz. E isso é maravilhoso, mas não vem diminuir a vida dos outros só porque você deu cria e os outros não??? Bom pra você, sabe... YAY! Mas você não é a última bolachinha do pacote só porque pariu.
Primeiro, nem vou entrar na discussão de "maternidade é um conceito que foi socialmente criado e não um sentimento inerente ao ser humano". Acredite no que você quiser. Mas chega a ser desrespeitoso com quem adota, por exemplo. E daí que a criança não saiu da barriga da pessoa. É menos filho por causa disso? A mulher é menos mulher por não ter parido ou por não querer parir? Sério? Eu me considero muito mais humana que minha mãe. Ela pariu duas crias e largou no mundo. Pra quê? Eu pelo menos não estou jogando em cima de ninguém o fardo de viver.
Agora, claro, que eu não devo explicação nenhuma da minha vida pra ninguém, mas eu gosto de escrever e hoje estou entediada, então vou contar pra vocês porque mudei de ideia.
Um dos primeiros motivos foi o filme "Um grande garoto" (About a Boy). Assistam, é muito bom. Não vou dar spoilers, mas, olha, foi um choque assistir aquele filme, porque até ali eu queria ter filhos. Mas eu percebi, com aquele filme, que seria de um egoísmo absurdo de minha parte ter um filho com os problemas mentais que eu tenho. A maioria de vocês sabe do que estou falando. Eu não tenho condições psicológicas para ter uma criança. Sim, no filme, tudo acaba bem. Mas aquilo é ficção, não é vida real. Eu sei como eu sou, eu sei dos meus problemas e eu sei que a chance de qualquer melhora é mínima porque eu estou em tratamento desde os 15 anos. Tenho quase 36 agora e... oh boi... eu só piorei. Já conheci pessoas com depressão que me falaram que ter um filho ajuda e que "mudou a minha vida". Mas, 1. eu não tenho só depressão e 2. eu não quero ter um filho pra me curar??? Que diabo de mãe eu seria se resolvesse ter um filho só pra me sentir melhor? Voltarei nesse ponto.
O caso é que, quando eu queria ter filho, eu queria ter porque eu queria ser a melhor mãe do mundo. Eu achava que quando eu crescesse eu teria um emprego lindo e uma casa e um marido e então eu poderia dar tudo para minha criança. Ai ai... sim, claro, tudo isso é fruto dessa sociedade machista que espera que nós, mulheres, estejamos aqui pra casar e ter filhos. Meu cu.
Mas, tá. Aí não queria mais ter filho. Mas seeeeempre quis ficar grávida. Tipo, acho a coisa mais linda do universo. Aquele barrigão lindo e... sei lá, mulher grávida é uma coisa maravilhosa. Então por um tempo eu realmente considerei engravidar e depois dar o bebê pra adoção. Mas eu JAMAIS conseguiria fazer isso, eu sei. Se tivesse acontecido de eu ficar grávida, eu ia tentar fazer o meu melhor pra ser uma boa mãe. Graças a Deus não aconteceu.
Aí eu fui crescendo mais, quer dizer, ficando mais velha... parei de crescer faz tempo... e aí comecei a pensar "quem, em sã consciência, decide trazer um ser vivo pra esse mundo???". Tipo, olhe em volta??? olha esse hospício que a gente vive... hoje mais ainda... sério que você acha uma boa ideia trazer um ser humano pro meio disso? Ainda penso isso, mas tenho noção de que esse é um pensamento individual pessimista marcado pelas minhas experiências ruins. Mas volta e meia penso "pra que vc quer ter um filho? status? por que apesar de todo o seu discurso feminista vc também acha que o papel da mulher na sociedade é procriar?" Sei lá... se acontece e vc decide ter o filho, eu entendo perfeitamente. Mas querer? Tipo, tentar ficar grávida? E trazer um ser humano pro mundo? Gente, desculpa, eu não entendo. Eu sei, nessa parte aqui eu estou sendo bem chata, mas só estou dizendo o que eu penso. Eu não sei o que aconteceu que me fez ter essa aversão a ser mãe, mas olha... se vc me perguntar do que eu mais tenho medo no mundo, minha resposta é: ficar grávida. E é muito estranho porque eu ainda acho que ficar grávida é lindo e deve ser uma experiência incrível, mas o pensamento de ser responsável por uma vida além da minha me aterroriza mais que a morte. Tipo, eu precisei de anos de tratamento pra conseguir ter um gato??? Agora dois. E eu sei que quem é mãe me odeia por isso, mas eu considero minhas gatas minhas filhas, sim, e eu passo noites sem dormir de preocupação. Às vezes penso "o que eu tinha na cabeça? eu não tenho condição de cuidar de um ser vivo!", mas aí a Mer me olha com aquela carinha fofa dela e meu coração derrete. E eu imagino que deve ser algo assim, talvez mais intenso ou não, com um ser humano, mas eu não consigo imaginar. Ontem a Mer apareceu com a boca machucada e a Fin está com um arranhão nas costas. Eu já não consegui dormir, chorei, rezei, desejei que pudesse morar em um lugar em que elas não saíssem de casa (meu sonho). Mas elas são gatos. Se um dia eu mudar pra um lugar sem acesso à rua elas vão estranhar, mas depois acostumam. A Mer quase nem sai mais. Mas você não pode fazer isso com um ser humano. Você não pode prender seu filho com vc pra sempre por mais que vc queira e é por isso que eu admiro muito muito muito quem escolhe ter um filho. Eu jamais conseguiria existir sabendo que minha cria um dia estaria por aí nesse mundo estúpido.
Então, assim... eu tenho noção de que minha decisão de não ter filhos e de achar egoísmo por parte das pessoas querer ter filhos é uma consequência da vida de merda que eu tive, mas eu entendo seu lado. De algum jeito eu realmente entendo. Por exemplo, uma professora que trabalha com o Fer quer muito ter filhos e ela engravidou e perdeu o bebê. Nossa, quando o Fer me contou, e até agora, meu coração dói. Deve ser uma das piores coisas do mundo porque eu já tive muito medo disso. Antes, quando queria ter filhos, tinha pesadelos de que não podia. Minhas histórias de quando eu tinha 11, 12 anos, eram de mulheres que queriam ser mãe e não podiam. Meu maior medo era que quando eu finalmente tivesse um filho e fosse feliz e não quisesse mais morrer, então eu morreria. Aquela novela da Globo lá, da Betina, que morreu no parto, me traumatizou. Mas tudo isso mudou. Infelizmente ou não, eu mudei e agora eu não tenho a mínima vontade de ter filhos. Na verdade tenho medo. Mas isso não quer dizer que não goste de crianças. Amo meus sobrinhos e sobrinhos-netos (sim, sou tia-avó). E tenho uma admiração enorme por você que por livre e espontânea vontade decidiu criar uma vida, mesmo que eu não entenda o sentimento. Ou você que ficou grávida por acidente e decidiu ter o filho. Vocês são muito fodas e eu desejo do fundo do meu coração toda a felicidade do mundo pra você e seus filhos.
Mas...
Então... não me venha dar uma de abençoada e única pessoa realizada do mundo porque você pariu. Sim, eu tenho certeza que deve ser uma experiência mágica e única. Mas sabe o que também é? Ir ao Anfield ver o Liverpool jogar. Ir ao Wolvercote Cemetery ver o túmulo do Tolkien e sentar no banquinho verde. Ler O senhor dos anéis. Defender uma tese de doutorado. Eu não sou nem um pouco melhor que você porque tive experiências diferentes das suas. O que quer dizer que ter parido uma cria não te faz melhor que eu ou qualquer outra pessoa no mundo, seja por escolha ou não. E quando você começar a falar merda no meu facebook de que "mulher que não tem filho não sabe o que está perdendo" eu vou ligar o meu botãozinho da maldade e mandar vc tomar no cu e cuidar da sua vidinha enquanto eu durmo até às 17h sem nenhum compromisso ou obrigação. Claro, eu sou inútil, mas livre, leve e solta, meu amor, e não tem uma gota de arrependimento aqui. Enquanto vc tá aí trocando fralda suja eu to aqui sendo linda, pintando meu cabelo de rosa e assistindo meu time fazer 4-0 no Barcelona. E, na minha opinião, minha vida é muito melhor que a sua, mas eu não fico no facebook te falando isso, né?
Ok, eu fui bem chata aí no fim, mas meu DEUS como irrita gente que... gente.