Sentada no ônibus, indo de Londres para Oxford, me senti um pouco desapontada. Achei que tudo era diferente na Inglaterra, principalmente as paisagens, mas do que eu tinha visto até ali, tudo era muito parecido com o Brasil. Então passamos por uma placa, que também era igual as do Brasil, em que estava escrito “Oxfordshire”. Me senti passando pelo guarda roupa de Lewis nesse momento. Foi mágico! Tudo mudou, a paisagem, o ar, o tempo. Tudo confirmando o que eu sempre achei: Oxford é um lugar encantado.
No primeiro dia eu praticamente só viajei, por isso não vi nada da cidade. Como meu hotel (um castelo muito lindo, por sinal) era um pouco longe da cidade de Oxford, só consegui visitar a cidade na segunda-feira. Com um roteiro preparado para seguir os passos de J. R. R. Tolkien pela cidade, fui, numa manhã enregelante, para Oxford. No caminho, falando com o taxista, expliquei que estudava Tolkien, achando que ele diria “Ah, sim! Tolkien!!”, mas ele parecia nem conhecer. Somente quando eu disse que era o escritor de O Senhor dos Anéis ele pareceu se lembrar, o que me fez ver que nem todos os habitantes de Oxford são grandes fãs de Tolkien.
Comecei meu trajeto pelo cemitério de Wolvercote, onde Tolkien está enterrado junto com sua esposa. Havia placas indicando o local do túmulo e quando cheguei lá não pude deixar de notar que tinha um dedinho do Tolkien na escolha do local, afinal, sua esposa morreu dois anos antes e ele pareceu esolher um lugar onde o som do vento nas árvores parece uma canção doce dos elfos da Terra-média. No túmulo está, sob o nome de cada um deles, o nome dos dois personagens da maior história de amor de Tolkien: Beren e Luthien. Tolkien diz em uma de suas cartas que nunca chamou Edith de Luthien, mas que a personagem era baseada nela, pois quando a conheceu, seus cabelos eram negros e ela cantava. Na história, Beren, um mortal, encontra Luthien, uma elfa, cantando e dançando na floresta. É uma história trágica e uma das melhores que compõe O Silmarillion, obra de Tolkien publicada postumamente, embora tenha sido uma das primeiras coisas que escreveu.
Depois de chorar muito no túmulo, andei um pouco até a Northmoor Road, rua em que ficava duas casas em que o Tolkien viveu. Uma delas tinha até uma plaquinha informando que ali tinha vivido o autor de O Senhor dos Anéis. Depois, andei até o pub Eagle and Child, carinhosamente apelidado pelos Inklings (grupo do qual Tolkien e Lewis faziam parte) de Bird and Baby. Lá havia vários quadros de fotos de Tolkien, Lewis, e dos outros integrantes do grupo, assim como também uma placa redonda em que se registrava que ali tinha ocorrido algumas reuniões do grupo que possibilitou, a partir de leituras e opiniões dos amigos, o desenvolvimento das obras tanto de Tolkien quanto de Lewis.
A próxima parada foi o Exeter College, um dos colégios da Universidade de Oxford onde Tolkien deu aula. Consegui tirar umas fotos externas, mas eles não me permitiram visitar a sala do professor. O mesmo aconteceu no Magdalen College, onde Lewis passou boa parte de sua carreira e onde também ocorria, às vezes, reuniões dos Inklings. Dia 22 de novembro faz 46 anos que Lewis morreu e dia 29 de novembro vão ser 111 anos (a idade de Bilbo no início de O Senhor dos Anéis) do seu nascimento, mas nem mesmo essas alegações amoleceram o coração do pessoal que tomava conta da entrada do colégio. Paciência! Quem sabe da próxima vez, quando eu voltar como estudante da Universidade, no doutorado, eles me permitam ao menos conhecer as salas desses dois grandes escritores de fantasia do século XX.
Love you.