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domingo, 8 de novembro de 2015

Como se eu ainda estivesse lendo no pé de mixirica

Ah, eu venho ensaiando esse post há tanto tempo. Mas honestamente eu não sei exatamente o que eu quero dizer.
Bem, uma coisa que eu quero dizer é bem óbvia: as expectativas da sociedade ferra a gente pra caralho.
Vamos por partes:
Lanço a pergunta: eu sou um fracasso ou não?
Bem, do meu ponto de vista, sim. Pode acreditar, não importa o quanto você me odeia, eu me odeio mais. Eu me acho um fracasso. Mas alguns acontecimentos recentes me fizeram pensar um pouco. O que exatamente define a pessoa como um fracasso? E a resposta vem na lata: as expectativas da sociedade.
Mas como, Mirane?
Bem, eu sou uma mulher de 31 anos de idade. E aí? Aí que a sociedade espera que, para eu ser considerada alguém que não falhou na vida, eu devo ter um marido, filhos, uma casa, um carro e idealmente algum animal de estimação. No mínimo. Ou, ter um super emprego que me mantenha super ocupada não sendo possível ter marido e filhos, mas ainda tendo uma casa e um carro. No mínimo. Ou tudo isso ao mesmo tempo. É claro que eu sou um fracasso, eu não tenho nada disso. Absolutamente nada disso. E eu posso ver a decepção da minha família. Eles me veem como um fracasso, assim como eu. E então eu parei pra pensar nisso e me perguntei: meu Deus, o que eu tenho? Eu não tenho nada, eu não fiz nada, eu sou uma inútil, um desperdício de espaço e uma vagabunda.
Então Deus me olhou bem e disse: nenhuma criação minha é inútil ou um desperdício de espaço. Pensa na sua vida de novo, não do ponto de vista da sociedade, mas do seu, e me diz o que você acha.
Então eu pensei.
Não vou me fazer de coitada aqui, mas quero deixar clara minha linha de raciocínio, então vou falar tudo.
Eu fui abandonada pelos meus pais e a maior parte da minha família. Eu tenho algumas doenças que, embora pra muita gente sejam só frescura, me destroem completamente todo santo dia.O fato de eu ter sobrevivido até os 31 anos já é uma vitória. O fato de eu acordar quase todos os dias já é uma vitória. Mesmo que a maior parte das pessoas lendo isso aqui não entendam como essas coisinhas tão fáceis pra elas podem ser vitórias, eu sei. E são.
E Deus me fez ver isso naquele dia.
Quando eu era criança eu tinha tantos sonhos. Eu vivia sonhando. E eu cresci sonhando. Um sonho mais louco que outro e muitos deles considerados impossíveis. E quer saber? Eu realizei TODOS os meus sonhos.
E Deus me fez perceber isso naquele dia.
Eu estudei o que eu queria na melhor universidade do país naquela área. Eu fiz mestrado e doutorado na área que eu queria. Eu estudei Tolkien. Eu fiz pessoas levarem a literatura de fantasia a sério. Eu escrevi centenas de histórias e publiquei um livro. Eu visitei as duas cidades que eu mais amo no mundo. Eu vi o Corinthians jogar no estádio. Eu vi o Liverpool jogar no estádio. Eu assisti jogos da Champions League e Europa League no estádio. Eu fui em alguns dos estádios mais lindos do mundo. Eu vi os maiores times e seleções jogarem no estádio. Eu vi o Brasil humilhar a Espanha no Maracanã. Eu pisei no gramado do Maracanã (mais do que alguns jogadores profissionais podem dizer). Eu deitei no gramado do Maracanã. Eu chutei uma bola no gramado do Maracanã. Eu vi a maior parte dos melhores jogadores da minha época jogarem no estádio. Eu tenho autógrafos dos meus maiores ídolos. Eu morei na Europa. Eu tenho minhas edições dos sonhos dos meus livros preferidos. Eu tenho mais de 100 livros do Tolkien e quase todos os livros que eu sempre quis. Eu tenho várias camisas dos times que eu torço e dos que eu simpatizo também. Eu tenho amigos ao redor do mundo. Eu tenho um namorado lindo que ama Tolkien, história e futebol e odeia o United comigo (menos contra o Crystal Palace). Eu tenho o melhor amigo que existe no mundo e que me ama mesmo eu sendo a pior pessoa que existe no universo. E eu tenho amigos que me suportam. Eu vi meu time ser campeão brasileiro SEIS vezes. E ganhar a Libertadores e o mundial. E a Champions League. Fora outros títulos. Eu vi minha seleção ser campeã do mundo duas vezes. Tá certo, eu vi minha seleção perder de 7x1 também, mas eu tava viva dia 25 de julho de 2004. :) Eu pintei meu cabelo de todas as minhas cores preferidas e fiz as tatuagens que eu queria. E muito, muito mais!
Meu ponto é: eu tive uma vida horrível na maior parte do tempo, mesmo quando não parecia. E eu nunca tive dinheiro de verdade. Ainda assim eu fiz TUDO que eu sempre sonhei. Eu realizei TODOS os meus sonhos. Tá certo, eu não tenho carro, ou casa, ou marido, ou filhos, ou emprego, ou dinheiro, nesse momento. Mas eu vivi a minha vida! Mesmo tendo uma doença que literalmente torna ser feliz impossível eu fui inacreditavelmente feliz por alguns momentos. Porque eu mandei as expectativas da sociedade pra puta que pariu e fiz o que eu quis! E não me arrependo de absolutamente nada.
E quer saber? Eu ainda posso ter um marido e carro e casa e emprego. Até mesmo filhos se eu quiser. Mas só se eu quiser. Não porque as pessoas esperam que eu tenha.
E pensando tudo isso me dá uma raiva de eu ser doente porque eu deveria ser feliz. Eu fiz tudo o que eu queria. Eu vivi a minha vida até aqui e ainda assim eu me sinto um lixo e eu esqueço todas essas coisas boas. As coisas ruins não. Essas ficam bem frescas na memória todo o tempo.
Então vocês podem achar que eu sou um fracasso o tanto que vocês quiserem. Eu vou continuar achando isso também provavelmente. Mas a verdade é que eu não sou. As pessoas são diferentes e sonham coisas diferentes. Meus sonhos, eu realizei todos os que tive até aqui. E isso não é fracassar. Mesmo que eu não tenha um centavo no presente momento ou a perspectiva de ter algum dinheiro num futuro próximo. Ainda assim. 
Até hoje eu lembro o meu maior medo quando eu era criança: crescer, ser adulta. Eu tinha um pavor absurdo de crescer porque eu pensava que então eu não poderia ser o que eu gostava e o que eu queria. Eu achava que eu não poderia mais sonhar com personagens fictícios, inventar histórias, assistir filmes e chorar, dormir com  Blaublau, ser idiota e besta, me preocupar com as pequenas coisas, ler e morrer por causa de futebol. Honestamente essa é a única coisa de que me orgulho hoje. Eu nunca cresci. Eu nunca virei adulta. Eu fiz e faço o que eu tenho que fazer, mas eu continuo exatamente quem eu era quando eu tinha 4 anos. Graças a Deus!

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