Hoje eu sei do que quero falar, mas é tanta coisa e to tão estressada que provavelmente só vai sair merda. Dane-se!
O foco do meu estresse é, obviamente, as eleições, mas vou deixar isso pra depois. Vamos por partes.
Eu não sei quem ainda lê isso aqui, mas sei que quem provavelmente lê já me conhece mais ou menos e tem uma ideia dos meus problemas. Agora, estou dizendo isso porque tenho pra mim que esse último mês tiraria a pessoa mais normal e feliz do mundo do sério, então imagine eu.
O que aconteceu primeiro? Acho que foi a Mer ficar doente. Não, foi meu tio b****minion tentando me passar a perna e me tirando do sério enquanto fazia isso. Mas essas são todas as informações que darei sobre o assunto. A questão é que fiquei bem mal porque pode parecer que sou uma cadela raivosa, mas em casa eu só choro. E, também, tudo me deixa mal, principalmente quando eu já estou mal. Enfim...
Aí teve o negócio da Mer. Olha, parabéns pra vocês que tem filho humano, viu, porque eu quase morri porque minha gata tava mancando. Jamais teria condição de criar um ser humano. O rebento ia estar gripado e eu já estaria chorando e planejando o funeral (dele e meu). A questão é que a Mer estava agressiva, miando e mancando. Já chamei a vet na hora, óbvio. Chorava porque imaginava ela com dor sem eu poder fazer nada porque não conseguia encontrar o que estava errado. Nenhum machucado, nenhum dos sinais que a vet indicou de gatos quando sentem dor, eu tava desesperada! Comprei remédios pra ela mais caro que alguns meus, mas a bonita é uma drama queen e prefere morrer a tomar remédio. Sério, parece que tá torturando a bicha. "Ah, mas, Mirane, nenhum animal gosta de tomar remédio". Eu sei, eu sei, mas você não está entendendo. Não é que ela não gosta, ela literalmente fica como se estivesse no leito de morte depois de ser perfurada por 20 flechas. Então a menos que ela realmente, REALMENTE precise de remédio, a gente prefere não dar. Mas ela miava tanto e mancava tanto que eu não conseguia imaginar a possibilidade de deixar a bichinha com dor. Umas 3, 4 vezes até consegui dar os remédios (o que me fez pensar "nossa, ela deve estar mesmo com muita dor"), mas depois começou o teatro de "this is my last miau". Chamo de teatro, aqui, porque há uma história paralela a se contar.
Sempre teve uns gatos folgados aqui na rua, que tem casa, mas vem comer a comida das minhas gatas. Eu queria, mas não tenho dinheiro pra sustentar todos eles, então geralmente, quando via, não deixava. Mas se aparecia algum gato claramente de rua ou magrinho, sempre dava comida e caminha lá fora, essas coisas, mas a maioria que vinha aqui era só folgado mesmo, uns boi gordo, bem tratado que queria comer a comida das gatas. Já tivemos vários: o Demonho, que a Mer ficou amiga depois de um tempo, mas depois que a Finduilas chegou não deixou mais ele vir aqui. O Ratão, que elas sempre brigaram (e que vai na casa de todos os donos de gato da rua comer a comida deles), mas ultimamente fizeram amizade. A Sininho, que tem uma coleirinha com sininho, mas as gatas não são muito fã dela (lembrando que o meu ele/ela é completamente aleatório, não sei exatamente o gênero dos gatos). E um que apareceu recentemente, o Red John. No começo achei que tinha dono, siamês, bonito, bem tratado. Mas depois achei ele meio magrinho e comecei a dar comida pra ele. Depois de umas duas semanas, ele apareceu mancando. Nossa, fiquei arrasada, com muita dó, comprei comida, coloquei no potinho lá fora, o Fer fez uma caminha pra ele embaixo do tanque porque tava frio e a gente ia fazendo o que dava, já que ele não deixava chegar perto pra ver se tava machucado ou não. Então, éramos simpáticos com ele, conversávamos, dávamos comida, etc. Aí dona Meredith começou a mancar. Primeiro achei que eles tinham brigado, mas a Mer nunca implicou com ele aqui, deitavam um do lado do outro, se cheiravam... e a bonita é encrenqueira, se ela é simpática assim é porque realmente não tem problema.
(NOTA: infelizmente tive que interromper esse relato várias vezes pra ir shushar o Red John pra fora, oh bicho folgado!)
Aí foi quando eu comecei a me preocupar e chamar a vet, comprar remédio e nada. Fer comentou que era estranho que dois gatos da vizinhança estavam mancando. Fiquei mais preocupada ainda. Cuidava da Mer e tentava fazer o possível pro Red John, dando comida, tentando aproximar, conversando... Mer começa a piorar mais e mais e eu já desesperada, a ponto de ficar esperando dar 7h pra mandar mensagem pra vet pedindo pelo amor de Deus pra vir ver o que estava errado (coitada da Agnes). Ela vinha, examinava e não encontrava nada de errado. Desespero subindo. Fez exame de sangue (que btw quase me matou de ver tirando sangue do pescocinho dela) e nada de errado. Sinceramente, já tava planejando o suicídio (de onde vocês acham que a filha tirou o drama?). Tipo, eu basicamente só estou viva por causa das minhas gatas... se alguma coisa acontece com elas... infelizmente é assim que minha cabeça funciona. Na verdade, pra ser bem bem honesta mesmo quebrar uma unha já é motivo de suicídio pra mim, imagina acontecer algo realmente sério. Enfim...
Como não conseguia descobrir o que estava errado, eu e a vet já íamos mandar pra fazer raio X, essas coisas, mas como ela explicou o processo, eu não queria fazer a menos que fosse extremamente necessário. Pra mim, já tava nesse ponto. Eu precisava saber o que tava errado pra poder cuidar, mas, nesse momento, a pobreza interviu e não pude fazer o exame, então ficava sempre observando pra ver se ela piorava, se parecia com mais dor, etc. De vez em quando ela olhava pra mim e começava miau miau e eu "ela tá com dor", aí ia lá, fazia carinho, apalpava devagar pra ver se achava onde era a dor... nada. Isso a bonita pulava numa boa pra cima de tudo, descia sem problema, comia, fazia necessidades, tudo normal. Gente, pelo amor de Deus, o desespero! Aí comecei a investigar. Quando ela miava pra mim, eu tentava identificar se podia ser qualquer outra coisa que não fosse dor. Era sempre a mesma coisa, ela dormindo no sofá, do nada acordava miando e só parava quando eu ficava fazendo carinho nela. Aí comecei a perceber que quando começava esses miados, ela sempre tava encarando lá fora e minutos depois o Red John aparecia. E voltava o pensamento na minha cabeça "será que tem alguém machucando os gatos aqui?". Aí comecei a ver um padrão. Sempre que o miado começava era o Red John no corredor parado. Mas não era miado de briga, ela continuava sendo simpática com ele. Toda vez que dava comida pra ele e conversava com ele, a manquitolice da Mer piorava. Não é possível. Eu só conseguia pensar isso "não é possível". Pois, meus amigos, não só era possível como era verdade. A BONITA TAVA MANCANDO DE CIÚMES DO GATO.
A gente ouve histórias sobre isso, mas ver acontecer na sua cara, a desfaçatez da felina. Aí comecei a testar minha teoria. Parei de conversar com o Red John, parei de dar comida pra ele lá fora, quando via que a Mer tava perto sempre brigava com ele, tipo "não pode entrar não, para de comer a comida da minha gata". Gente, a bicha sarou na hora. NA HORA. O dia que tirei o potinho lá de fora e parei de falar com ele como falo com minhas gatas, acabou a manqueira, a dor, tudo. A meliante está saudável e linda, sem nenhum problema agora que foi reestabelecida como centro do universo. Na verdade, foi um alívio isso. A única coisa boa que me aconteceu nesses últimos tempos. Tá certo que agora a gente não tem dinheiro nem pra comprar um bala, mas minha princesa não está doente e isso é tudo que importa.
Tá, aí já tava abalada com essas coisas, mais coisas menores que, quando vão juntando, vira uma coisona e junta com as outras coisonas. No entanto, no meio de tudo isso, o alívio de descobrir que a Mer estava bem ajudou um pouco. Mas olha... era acordar todo dia e pensar "o que vai me fazer chorar primeiro hoje? Política? Futebol? Racista filho da puta? Machista filho da puta? Gente burra?". E, sim, metade dessas coisas completamente relacionadas. Aí tinha que fazer o podcast com o Fer e fui convidada por uma ex colega de classe pra falar sobre fantasia onde ela dava aula. Mas, gente, meu estado atual é deplorável em todos os sentidos. Eu queria muito ir dar a palestra, mas sem nenhuma condição. Aí pensei "vou me dedicar ao podcast que posso fazer em casa, de casa, sozinha". Mas, como eu tenho o It no kindle, fica difícil de analisar, e como é em inglês, eu precisava de uma versão em português pra citações, etc, porque não posso assumir que nosso público sabe inglês. Enfim... tive que comprar o livro. Aí, meus amigos... começa furdunço master número 3.
A amazon, que é uma desgraça em muitos sentidos, mas infelizmente eu preciso usar seus serviços, cancelou a minha conta porque, veja bem, eu fiz a compra em um cartão, pedido aprovado, recebido, tudo certo, né? Oh boi... uma coisa que dona amazon faz muito é mudar sua forma de pagamento escolhida para certo produto sem te avisar ou pedir consentimento. It's like SURPRISE!!! Já tive esse problema antes, já reclamei, falaram que não ia se repetir, mas né... eis o que aconteceu:
Eu fiz a compra do livro, eles aprovaram o pagamento, livro chegou, achei que tava tudo certo. No dia seguinte Fer vem me perguntar por que eu passei o livro no cartão da Bi e não no dele. Não tinha ideia do que ele tava falado, mas o que aconteceu foi: a bonita da amazon aceitou meu pedido do jeito que fiz, deu problema no cartão que escolhi, que só descobrimos depois, e eles automaticamente, sem nenhum aviso, mudaram o pedido para cobrar o cartão da Bi (que estava lá por acaso como tendo sido usado uma vez 8 anos atrás e que a gente já tentou deletar, mas não conseguia). Claro, a Bi, que não tinha comprado livro nenhum e viu uma cobrança no cartão dela, ligou na amazon falando que não foi ela que fez a compra e denunciando, como tem que ser feito. Aí eles bloquearam a minha conta e me mandaram e-mail tipo "a gente tá te investigando porque você fez uso indevido do cartão de outra pessoa". EXCUSE ME!!! Conta bloqueada, não posso acessar nada, só aparecia um número pra ligar. Liguei. Atendente basicamente disse que não podia fazer nada, inferiu que eu estava mentindo sobre a amazon ter feito a mudança de cartão e me fez mandar e-mail pra parte de investigação da empresa explicando a situação. Fiz. Zero resposta, nada. E minha conta bloqueada. Aí recebo um e-mail em inglês dizendo que se a pessoa dona do cartão tirar a contestação da cobrança, volta tudo ao normal. Conversei com a Bi, ela tentou fazer isso e eles disseram que tinha que ser eu a resolver o problema e não ela, porque era minha conta. Ok, MAS COMO? Eu tinha feito tudo que podia, tudo que eles tinham me mandado fazer e o único e-mail que recebi foi com uma informação falsa. Mandei mais dois e-mail. Dias passam, nada de resposta, conta ainda bloqueada. Eu já tava parindo um time de futebol na força do ódio. Eu não tinha acesso a minha conta, portanto não conseguia provar que eles que fizeram merda mudando forma de pagamento sem permissão ou aviso, e continuaram duvidando de mim e se recusavam a reabrir minha conta mesmo a dona do cartão entrando em contato ela mesma pra explicar a situação.
MAS... aí eu percebi que no e-mail de confirmação do pedido aparecia "pago com: bandeira do cartão", mas no e-mail de confirmação de pagamento tava "pago com: OUTRA bandeira de cartão". Te peguei, filha da puta. No final, eles tinham modificado a forma de pagamento diversas vezes nessa mesma compra, de novo, SEM NENHUMA AUTORIZAÇÃO OU AVISO. Minha conta continua suspensa, eles contestaram o pagamento (e devolveram o dinheiro) mesmo depois da Bi falar com eles. E tudo isso na mesma semana em que a amazon já tinha me tirado do sério com aquele episódio ridículo de Rings of Power.
E chegamos em mais um motivo de estresse: Rings of Power.
Primeiro tem os racistinha que não se conformam que tem pessoas negras na série. Elfo? Sem problema. Seres divinos em forma humana? Super ok. Um homem meteoro? Claro, faz todo sentido. Mas um negro??? OH MY GOD, não pode!!! Olha... o que que fala pra essas criaturas? Não tem muito o que falar, mas o ódio dentro da gente é insuportável. E eu nem sou negra! Imagina você viver isso todo santo dia, em tudo na sua vida, afetando todos os aspectos da sua existência e você nem pode ser representado num mundo INVENTADO porque aí os cara de cu vão ficar putinho. Ah não, gente, puta que pariu.
Aí vem os machistinha. Mulher de armadura??? COM ESPADA? LUTANDO? Gente, isso não existe! Não é igual os hobbits que são reais. Mulher existe pra ser bonequinha e usar vestidinho e ser bonita para os machonildos assistirem, que negócio é esse de dar personalidade pra mulher? Inaceitável! "Ah, mas não é fiel ao personagem"... AMIGO? AMIGO????? É, realmente, um absurdo! Quando todo o resto de todas as adaptações do Tolkien são tão inteiramente fiéis, fica muito difícil aceitar esse único desvio que é fingir que mulher é gente. Ai, gente, sem paciência, sério.
Depois tem a questão de que não pode criticar a série. Porque é óbvio que todas as pessoas são iguais e pensam a mesma coisa e existe uma verdade universal sobre uma série de televisão. Ah, por favor, né! Eu gosto do que eu quiser, não sou obrigada a nada, vai se fuder! Que bom que você está amando e é a melhor coisa que você já viu, parabéns! Eu não acho e pronto. Acabou aí. Mas na verdade não, né, porque você precisa ficar se explicando pra não te confundirem com os racistinha e com os machistinha. Gente, não teve uma adaptação do Tolkien que eu gostei de primeira. A primeira vez que assisti A Sociedade do Anel eu achei o pior filme já feito. Eu sou louca! Eu tenho reações extremas, ainda mais quando tem um bando de gente querendo me dizer como devo me sentir em relação a algo. Não faço de propósito, mas se você disser: "essa vai ser a melhor coisa que você vai assistir" eu vou pegar ranço automaticamente, sem nem perceber e sem poder evitar. EU SEI que eu posso muito bem mudar de opinião depois, quando passar a encheção de saco, mas nesse momento, com todo o tititi que tão aprontando, NÃO GOSTO! E, adivinha só, isso não é problema seu. Vai gostar e me deixa não gostar. Tenho vários problemas com a série, inclusive alguns de fidelidade com a obra escrita, mas eu entendo adaptação, puta que pariu, eu estudei isso na faculdade. E a Segunda Era dá tantas possibilidades, acho o máximo, mas tem coisas que meu cérebro simplesmente não consegue aceitar, não adianta vir com "ah, mas os direitos", "ah, mas é não sei o que" I DON'T CARE. Aquela história da árvore lá? Não dá, sinto muito. "Ah, mas pode ser o Gil-galad mentindo"... pode. Mas realmente, falando de Elrond, faz sentido ele ouvir aquilo e achar que é possível? O Elrond? Sério??? Você acredita que o Elrond ia ser troxão daquele tanto sobre HISTÓRIA DOS ELFOS E DAS SILMARILI????? Não entra na minha cabeça. Minha opinião. Os orques só querem paz e um lugar pra morar com sua família? SÉRIO? NA MINHA CARA? Não dá, gente. Algumas coisas no Tolkien é essencial, sabe... a criação e o propósito dos orques na obra não dá pra ser invertido assim. "Ah, mas é uma visão legal"... é linda! Adoro! Nada me emociona mais do que quando os "malvados" são revelados como só lutando por seu espaço no mundo, mas isso não faz sentido no Tolkien. "Ah, mas é uma adaptação..." EU SEI! E eu sei o que é uma adaptação, mas você entende que não deixa de ser uma adaptação de Tolkien? E, NA NARRATIVA DE TOLKIEN, essa linha de pensamento não funciona com os orques. De novo, minha opinião. Ache o que você quiser.
Aí vem outra questão super pé no saco, que eu odeio até comentar, mas que vem me tirando do sério há um tempo. Vou tentar colocar as coisas do modo mais simpático que consigo. Digamos que isso não é uma acusação de nada, só um comentário, do meu ponto de vista. Vamos lá!
Estudar Tolkien no Brasil agora é moda, todo mundo faz. O QUE É ÓTIMO!!! Sinceramente, é muito bom você pesquisar sobre trabalhos acadêmicos de fantasia e encontrar um milhão de coisas novas a cada mês. Quando eu comecei, não que eu seja pioneira em nada (gente, pelo amor de Deus, não to dizendo isso, tinha muita gente estudando Tolkien quando eu entrei na faculdade), era difícil achar TRABALHO ACADÊMICO sobre Tolkien NO BRASIL. Gente, eu tive que defender todo santo dia que estudar Tolkien era legítimo. As pessoas riam da minha cara, eu chorava. Me perguntavam porque eu não tava estudando algo "sério" ou "literatura de verdade". Os dez anos que passei na universidade eu tive que provar não só a pertinência do meu estudo, mas também que Tolkien merecia ser estudado. Eu tive que sair de porta em porta implorando até achar um orientador. Professores riram na minha cara, eu quase larguei a faculdade porque eu entrei ESPECIFICAMENTE para estudar Tolkien e ninguém queria deixar. Na verdade, o que me fez fazer letras, depois mestrado e doutorado, o que me motivou, foi que eu queria ter algum tipo de autoridade para poder dizer o quanto o Tolkien é incrível e as pessoas me ouvirem. Isso mudou, graças a Deus! Agora estudar Tolkien é legal, todo mundo quer te orientar. O preconceito não é tão grande quanto antes. E essa é a parte positiva. Mas eu to falando tudo isso pra explicar o seguinte. Na época que eu comecei, era difícil achar bibliografia pra estudar Tolkien em português. Meu inglês não era bom, então eu ficava limitada ao que tinha aqui. Tinha UMA dissertação sobre Tolkien na biblioteca, dos anos 80, e era basicamente sobre tradução. Tinha uma menina alguns anos na minha frente que estudava o feminino em Tolkien e era só. Lá pro meu terceiro, quarto ano já tinha mais algumas coisas saindo, principalmente em Araraquara, então nesses meus primeiros anos eu tentei falar sobre tudo que eu queria em Tolkien. Óbvio que você aprende na universidade que você não pode fazer isso, então você tem que selecionar UM tema e desenvolver aquilo. Então toda chance que eu tinha, eu fazia um trabalho sobre Tolkien. Mal, épico, modernidade, mitologia, tudo que você imaginar, eu fiz ou tentei fazer. Quando cheguei no mestrado já tinha entendido que preferia trabalhar com a teoria de Tolkien mais do que a ficção. Motivos meus e que não tem nada a ver com informações que tive do que o Tolkien achava de quem estudava sua obra (eu era jovem, mereço um desconto, além de louca).
Aqui entra outra questão. O fato de eu ficar me chamando de louca. Não é no sentido figurado ou engraçadinho. É no sentido literal e médico da coisa. Mil doenças mentais e principalmente uma filha da puta que me faz ser completamente obcecada pelas coisas. Não existe pra mim "gostei disso e vou tentar aprender mais". Comigo, infelizmente (isso destrói a minha vida), é "amei, minha vida inteira depende disso agora". E é isso, é assim que eu vivo desde minha adolescência até hoje. Eu grudo numa coisa e minha vida inteira depende daquilo ali. Durante a época da faculdade eu vivia para Tolkien. Como eu disse, eu entrei por causa de Tolkien. Mano, eu queria estudar física (ainda quero), matemática, engenharia. Eu deixei de prestar ITA pra me dedicar 1000% a Tolkien. Se qualquer coisa minimamente ficasse no meu caminho, lá tava eu, já planejando o suicídio. Gente, é um inferno viver assim. Hoje, devido à medicação, tratamento e idade, eu consigo controlar uns 5%, mas na época, era TOLKIEN OU MORTE. Neste momento da minha existência eu meio que to assim de novo, mas eu tento balancear, então eu tenho as gatas, o Fer, futebol, Tolkien, terror e mais uma coisinha ou outra. Assim, dá pra ir levando, mas veja bem... nesses últimos tempos: minhas gatas com problemas, futebol? preciso comentar? Faz tempo que não vejo uma temporada tão péssima do Liverpool e só time insuportável ganhando tudo. Parece besteira pra você, mas pra mim não é. Futebol é como Tolkien, define minha vida. Sobrevivi ano passado porque o Liverpool tava disputando tudo e eu tinha um motivo pra acordar. Esse ano... vergonha atrás de vergonha atrás de vergonha. Corinthians? Até deu uma melhoradinha agora, mas meu Deus! Tolkien? Todo esse drama... então minha vida tava/tá meio sem sentido pra mim. GENTE! EU SEI QUE PARECE IMPENSÁVEL PRA VOCÊ QUE NÃO TEM ESSAS DOENÇAS MENTAIS, MAS É VERDADE! Minha disposição de viver depende dessas coisas. Morrer é a solução de tudo, é como eu penso. Não é drama, não tenho como te convencer disso, mas a questão é, quando tudo começou a desandar, mais as coisas que não to contando, eu simplesmente não tinha (na verdade tá difícil me convencer que tenho) nenhuma razão forte o suficiente pra continuar nessa vida.
Me desviei demais do assunto, mas eu to tentando mostrar pra vocês que, uma coisa que é um inconveniente pra você, uma bobeira, é o fim do mundo pra mim. É horrível, mas é como eu vivo. Aí o que aconteceu? Na verdade não é uma coisa nova... vem acontecendo há um tempo. Eu comecei a encontrar certos trabalhos e artigos e ensaios que são, literalmente, palavra por palavra, de algum trabalho meu sobre o Tolkien. E a pessoa tem a cara lisa de nem me citar.
Veja bem, meu problema aqui é: não seja a pessoa que apresenta a ideia, em 2022 (como novidade), de algo que foi escrito e publicado mais de 10 anos atrás. Gente, isso tá acabando comigo. Eu não ligo de ser ignorada como pessoa, eu entendo. Eu sou insuportável. Mas não faz isso com o meu trabalho. Eu literalmente dei a minha vida pra produzir esses trabalhos e desenvolver essas ideias. Não tem problema nenhum você estudar e escrever a mesma coisa que eu, mas precisa ter o mínimo de honestidade. Sério? Você vai estudar um tema em 2022 e você não faz uma pesquisa bibliográfica mínima do que foi dito sobre assunto na comunidade acadêmica recente? Sério mesmo? Sinceramente, se você vai escrever a mesma coisa que eu escrevi em 2010 sem nem me citar é uma falta de respeito total. Não só comigo, com qualquer pessoa. "Ah, Mirane, às vezes a pessoa não conhecia seu trabalho". COMO? Me diz como é possível se meu trabalho é um dos primeiros a aparecer EM QUALQUER PESQUISA sobre o tema. Na vida acadêmica, se você vai escrever sobre abacate e açúcar, A PRIMEIRA COISA QUE VOCÊ FAZ É PESQUISAR NO GOOGLE "ABACATE E AÇÚCAR". Sem contar as ferramentas específicas de pesquisa que a gente tem acesso na universidade. Lembro que na minha entrevista de mestrado uma professora me perguntou se eu tinha pesquisado o assunto no google pra ver se alguém já não tinha falado sobre o tema. Eu fiquei tão indignada! Isso é pergunta? ÓBVIO que pesquisei, foi a primeira coisa que fiz???? Mas agora até entendo ela...
A primeira vez que aconteceu eu pensei "ah, a pessoa não conhecia meu trabalho, oras, acontece". Aí aconteceu de novo com um tema muito, mas muito específico nos meus estudos tolkienianos. Aí pensei "é possível que a pessoa não queira me citar, uai", mas gente, aqui entra o que me pega. Numa pesquisa científica séria, você não exclui um trabalho que confirma a sua teoria só porque você não vai com a cara da pessoa. Eu adoro citar pessoas que eu discordo nos meus trabalhos pra implicar. Até quando eu concordo, se eu tenho problema pessoal com a pessoa, eu dou um jeito de ser meio irônica ou chata, mas eu nunca, NUNCA desrespeito o trabalho de outra pessoa fingindo que ele não existe. Pode ser que eu esteja sendo completamente paranoica aqui e não tem nada a ver, só aconteceu (várias vezes) da pessoa falar a mesma coisa que eu com 12 anos de diferença. Acontece. Mas fica muito, MUITO difícil de acreditar quando acontece várias vezes e aí com um tema que, se você digitar no google, meu trabalho é o primeiro que aparece. Não gosta de mim, beleza. Mas para o bem da sua própria pesquisa, da próxima vez, escreve assim "Então, a nojenta da MARQUES (2010) já disse isso aqui, mas eu vou dizer de uma maneira melhor." Simples assim.
"Mas, Mirane, já te ocorreu que às vezes seu trabalho não é muito bom pra ser citado?" Oxi, claro que me ocorreu, mas então como que essa criatura chegou à mesma conclusão que eu? E, pra falar bem a verdade, meu trabalho foi julgado por diversas bancas de especialistas. Acho que dá pra confiar quando ELES DISSERAM que meu trabalho era muito bom e eu devia continuar produzindo (infelizmente as doenças não permitem). Mano, um dos meus artigos ganhou prêmio de melhor artigo acadêmico sobre Tolkien um desses anos aí (2011, eu acho), dificilmente eu vou acreditar que meu trabalho não é bom o suficiente para aparecer na sua pesquisa, ainda mais quando estamos dizendo a mesma coisa.
Olha, tem muito que queria falar ainda sobre isso porque fiquei muito mal quando tudo foi acontecendo. Mas não é problema de ninguém meus problemas psicológicos e como eu reajo às coisas. Mas, por favor, tenha o mínimo de honestidade intelectual e não desrespeite o trabalho de outras pessoas que vieram antes de você.
Aí como cereja do bolo, eleição. Ai, gente, sério... parabéns pra vocês que olham pra nossa situação e acham que tem saída. Pra mim é muito, muito difícil pensar em um motivo que seja para ter esperança. O mundo foi pra merda, futebol tá uma desgraça, pessoas usando o trabalho da minha vida sem me citar. Pra que, PRA QUE eu to gastando tanto dinheiro com médico, remédio etc, só pra continuar vivendo nesse inferno, sem nenhuma alegria? Ano passado eu tinha o Liverpool. Esse ano? Nada. Eu não tenho amigos (tenho, mas eles moram em outras cidades ou países e tem suas próprias vidas e seus próprios problemas), não tenho vida social. Só saio de casa pra médico ou mercado, zero lazer, e aí os meus únicos divertimentos na vida que são livros e séries e filmes com todo esse drama sobre cada coisinha. Eu não aguento. Eu tenho zero incentivo pra acordar e isso não é problema de ninguém, acho que o que eu quero falar é: só presta atenção, sabe. Às vezes um besteira pra você é a diferença entre vida e morte de alguém. Ugh! Isso soa horrível, mas não to falando por mim (independente de qualquer coisa, eu já não tenho esperança*), mas é que eu sei o quanto isso pode impactar o dia, o ano, a vida de alguém. Eu sei que eu mesma ignoro isso às vezes e, com certeza, machuco pessoas falando merda na hora da raiva. Sinto muito, não é minha intenção, de verdade. E tento me controlar o máximo possível. Eu só to pedindo pra você tentar também.
Sei lá... acho que devia era deletar todas as redes sociais e deixar todo mundo em paz (e me deixar um pouco em paz também), mas não acho que sobreviveria sem a distração (e um pouco da raiva). Minha vida é uma tragédia e eu preciso extravasar falando merda às vezes e eu imagino que todo mundo também tá com um monte de merda e às vezes fala coisas que machucam sem pensar. Mas muita coisa tá parecendo pessoal, sabe? Pode ser só minha loucura também, mas esse é meu blog e posso falar o que to sentindo. E, embora eu entenda e concorde com o fato das pessoas quererem se afastar de mim, por favor, não desrespeitem o trabalho que eu dediquei minha vida. Meu nome lá nas suas referências seria MARQUES, pouca gente saberia que é a insuportável da Mirane. Pense nisso.
*Antes eu costumava pensar coisas tipo "se acontecer isso, vou melhorar". Se eu entrar na universidade pública vou melhorar. Nope. Se entrar no mestrado/doutorado vou melhorar. NOPE. Se eu publicar um livro vou melhorar... se eu morar na Europa vou melhorar... se o Corinthians ganhar a Libertadores vou melhorar... se o Liverpool ganhar a Premier League vou melhorar... e simplesmente não aconteceu (as coisas, sim; a melhora, não). Não importa o que aconteça, entende? Pode acontecer a coisa mais extraordinária do mundo comigo, tipo, virar uma escritora foda, ter muito dinheiro, casar com o Robert Downey Jr. Eu sei, por experiência, que não vai fazer nenhuma diferença. A questão é que esses objetivos, mesmo os alcançados, não interferem positivamente na minha vida. Mas se eu for tomar banho e acabar a água, eu vou interpretar como um sinal de que esse obstáculo é insuperável e eu preciso morrer.